As ruas se tornam cada vez mais um lugar de passagem para veículos rápidos.
As calçadas quase não existem e a gente acha que ela deixa de ser um lugar de vida pulsante, de produção de cultura.

Nos distanciamos dela na medida do tempo, a dita violência nos assombra e vemos o mundo através de janelas, as de carro principalmente, mal nos integramos com o meio e não sabemos o que acontece nos lugares por onde passamos.

As telas, as luzes são hoje uma outra maneira de tráfego.

Contudo, ainda há pessoas que vivem na/da rua. Gente que não tem um teto, uma janela e sim uma passagem. Que dorme, que descansa, que almoça, que brinca, que trabalha, faz poesia, tem esperança e não tem medo.

Uma comunidade que se respeita e tem esperanças de um dia ser um poeta conhecido, pelas telas de cinema, ou de um ator que vende chapéus para um dia viver somente da sua arte. Pessoas que por se ajudarem, depositam esperanças em alguém dita mais forte, com mais poder, com uma máquina ou que vêem nisso só uma máquina. E que sentem à vontade com essa objetiva. Mas também de gente que faz quase um trabalho de arte para consertar uma peça de pneu, que será usado para espremer ainda mais seu espaço.

De gente que faz parte daquele lugar como o ambiente de trabalho, como os vendedores de CD, da loja da esquina, que se integram com os demais.

De gente que luta e brinca, jogando capoeira.

Esse lugar é cheio de barulho, não apenas de um carro, mas de sentidos.

Ás vezes, nossa pressa não nota os mesmos rostos, e eles estão naquele canto que você pensa ser só seu, e que esses rostos desejam apenas viver, serem notados, serem gente.

E que dão um novo sentido, um outro olhar, um outro uso, para a rua que pisamos ou que (auto) movemos.

Foto: Cleide Craw

Cleide Craw

Mayla Pita

2005.2