Cinco da matina, o despertador grita.Acordo com a junta toda dolorida.Jogo uma água no rosto, ta gelada.Coloco a roupa e o relógio novo. Saiu para trampo.
Pra chegar no ponto pego dois buzu.No buzu mermo já aproveito pra vender as mercadorias.Os fregesses se interessam pelo produto, uns ate gostam mas pechincham para pagar mais barato.Mas ai o negão aqui da um sorriso, fala mansinho e o freguês leva o produto.Afinal tenho que tirar o meu ganha pão.
Chego no ponto umas oito horas, monto logo minha barraquinha.É pra ocupar logo o ponto, se não chega um e toma da gente.Boto os produtos na barraca e vou chamar os freguesses no gogo.Depois que a boca já ta seca, é que as vendas começam a escoar.
O problema é só quando da a batida, as polícia baixam lá na área e levam os cara tudo em cana.Nem quer saber que a gente tava trabalhando.Bota a gente no camburão e vai pra sela igual bandido.Chama a gente de marginal, de vagabundo, e diz que a gente ta cometendo crime.
Mas como é que pode, né?A gente só tava vendendo as mercadorias, pra tirar nosso ganha pão.Dando duro de sol à sol e nós é que somos bandidos.Os caras que robam e botam a grana no estrangeiro são doutor.A gente é marginal.
Quando ta tardezinha, eu já começo a desmontar a barraca.Arrumo logo minhas coisas pra não pegar o buzu cheio.Chego em casa é comer e dormir.Amanhã começo tudo de novo.
E que Deus me proteja.
Isadora Dourado
Sumaia Árabe
2005.2