Nascemos e morremos casmurros. Para uns, isso é claro desde o primeiro lampejo de consciência, outros carregam isso empacotado em latência, e muitos embalam sua existência no tenebroso pulsar da inconsciência.
Casmurros por excelência.
Meter-se consigo mesmo é essencial, vital; muitos repetem ao longo dos séculos que o homem é um ser social. O homem é um ser social por ser só, verdadeira e assustadoramente só.
Basta um minuto de silêncio e uma brevidade de introspecção para que a sensualidade da psique nos convide ao desnudo; aceitar ou recusar não nos cabe, somos tragados pelos labirintos internos.
Casmurros por excelência.
E brotam medos e desejos, cada poro deixa escapar uma pesada gota de imperfeição. Fica difícil respirar assim. Quero aquela pessoa só pra mim, aqui dentro a guardo numa redoma do mais delicado e impenetrável vidro, mas e lá fora?
O ciúmes é alado, voa implacavelmente em meu céu, transforma-o em inferno. Quero aquela pessoa só pra mim.
Casmurros por excelência.
O mais puro amor contaminado visceralmente com o mais impuro sentimento. Tudo começa a ruir. Só me resta eu e as pesadas gotas de imperfeição, que não mais saem pelos meus poros, mas agora rasgam cada espaço de alma, destroem cada palmo de chão. Tudo acabou.
A culpa? Porque sim, alguém sempre é culpado. A culpa não foi, nem jamais será minha, isso afirmo com certeza.
Casmurro por excelência.
Brisa Dutra
Rafaela Feitoza
2005.2