A cada ano muitos jovens de Salvador se vêem numa situação desalentadora: sem estudo e sem trabalho. E, com isso, é inevitável que eles fiquem sem boas perspectiva de representação social. Numa pesquisa recente, foi identificado o índice dos que vivem nesta situação: 21%. Porém, o que para uns poderia representar um motivo para revolta, para outros acaba sendo uma oportunidade para o desenvolvimento de uma atividade alternativa. Claro que nenhuma atividade alternativa deve substituir o valor primordial desempenhado pela escola, mas, em muitos casos, essa atividade simboliza um refúgio de uma cruel realidade.
Basta lançar um rápido olhar pelas ruas para se notar uma presença freqüente de crianças e adolescentes nas sinaleiras das grandes cidades. Seja para vender doces, lavar vidros dos carros, ou pior, para fazer assaltos, estes jovens ficam expostos aos mais variados tipos de perigo. Por isso, é esperançoso quando se dá o sinal verde para os “meninos da sinaleira” exporem suas capacidades artísticas, como, por exemplo, fazendo apresentações circenses. Esta pode ser uma possibilidade de inclusão, desde que a sinaleira não seja a única perspectiva deles, mas sim um incentivo para que sigam um caminho mais digno.
E aí algumas iniciativas podem significar um meio de transpor o ambiente em que trafegam estes garotos: da sinaleira para o palco. Um exemplo disso é o trabalho desenvolvido pelo Circo Picolino. Lá, jovens da periferia têm a possibilidade de participarem de cursos que visam à formação de profissionais do circo com direito até a diploma. Muitos começam pequenos e acabam se integrando ao circo. Alguns conseguem até viajar para participar de grandes grupos.
O ensaio não pretende levantar nenhuma bandeira, mas simbolizar essa questão. Afinal, esses artistas do asfalto podem ser muito mais que meros invisíveis do cotidiano, desde que encontrem o apoio e o incentivo da sociedade, e não apenas o desprezo e a indiferença dos vidros fechados.
Juliana Almeida

Tiago Soares
Agradecimentos:
• A equipe do Circo Picolino, que muito colaborou para a execução deste trabalho.
• Tiago – Assessor de Comunicação
• Sara – Coordenadora Pedagógica
• Luna – Secretária do Circo
• Danilo e Fiúza, que emprestaram suas histórias como base para a construção narrativa deste ensaio.
• Maurício e Lucas, que representaram na narrativa proposta pelo ensaio.
2006.1