Bonjour. Era uma vez uma petite que vivia num mundo só seu. A sua imaginação era do tamanho de sua gigante solidão. Um dia ela descobriu um tesouro, e dentro dele uma verdade universal que nem Einstein poderia relativizar: é nas coisas mínimas que mora o sentido da vida. Sabendo do poder de transformação que os detalhes pequeninos possuem, ela resolveu se dedicar à felicidade alheia. Reconciliou um avô com a filha ao devolver as suas ternas lembranças da infância. Secou as lágrimas da vizinha, usando como lenço uma falsa declaração de amor do marido morto há quarenta anos. Seqüestrou o anão do quintal do pai e o transformou em “mochileiro”. Provou ao homem frágil de vidro – há vinte anos enclausurado em sua casa e sua rotina – que tudo é possível, inclusive mudar. Vingou-se do verdureiro malvado, que maltratava o dedicado empregado. Deu um amor para a hipocondríaca e um motivo para as suas doenças: o doido do gravador. Devolveu a auto-estima de um escritor fracassado ao escrever, no muro, seus versos… E mexendo aqui e acolá foi arrumando a bagunça da vida de alguns. Mas e a dela? Apaixonada por outro extraterrestre, do mesmo planeta que o seu, vai fugindo, fugindo,… Até que o homem de vidro, sentindo a covardia de sua amiga, deixa o pedido: “viva!”.

Flavia Santana

Maira Araujo