Vida de pescador é, diariamente, deixar a terra firme e se aventurar em busca de sustento. Em barcos de pequeno porte, de cascos de madeira e movidos a remo, o pescador segue em sua rotina sacrificante e exaustiva. O horário de trabalho é determinado pela natureza, conforme a alta das marés. Muitas vezes, para não chegar de mãos vazias, o pescador passa dois, três dias no mar à espera de uma pesca que possa, ao menos, pagar o óleo gasto e garantir o sustento da família. Para suportar as noites de frio, o sol cáustico e o vento forte, o pescador adere ao cigarro e à cachaça, como forma de “ganhar mais possibilidade”.
A volta do pescador para a terra firme nem sempre representa o fim de um dia cansativo de trabalho. Na maioria das vezes, o pescador, ao ancorar o barco, parte para o tratamento do pescado, processo exaustivo e que requer emergência, visto que o peixe – e o consumidor – não pode esperar.
A rede é o principal instrumento da pesca artesanal. É com ela que o pescador garante a sua sobrevivência e a das espécies marinhas, numa relação de respeito mútuo entre o homem e a natureza. Na imagem retratada no estuário da praia de Sant’Ana, no Rio Vermelho, o pescador começa a cansativa tarefa de jogar a rede de mais de quinze metros de comprimento. Estendida a rede, ele começa a jogar a poita, um chumbo de mais ou menos dois quilos, atado a uma longa corda, para ancorar a tarrafa. Essa rotina é feita quase que constantemente, durante todo o dia, e muitas vezes, depois de exauridas as suas forças físicas, o pescador volta à terra de mãos vazias. Resta, então, ao homem do mar, pedir mais força e proteção à mãe Iemanjá, a protetora que fica ao longe a olhar pelos seus filhos.
Camilla Oliveira
2006.1