Um comércio sem balcão, um funcionário sem patrão, dono de si donos de suas incertezas e fortes pela necessidade de sobreviver. Nas ruas, no ônibus: “dois é cinqüenta, quatro é um real, seis é um vale”, e a frase se repete, mudam-se os valores, as mercadorias, as Marias e os Josés, dos cinco aos 50 e até quanto? Até quando Maria continuará sem balcão, sem patrão, sem renda fixa e sem horário. Para Maria, João, Pedro e tantos outros resta apenas à certeza de que estarão ali e este ali pode ser aqui ou lá não importa sua caminhada é em direção a mim, a você, ao outro, a quem comprar a quem alimentar sua esperança, esperança de um dia poder silenciar as mesmas frases ditas todos os dias, frases de venda, frases de apelo, frases de esperança.
Hortência Nepomuceno
Marta Cunha
2006.1