Não se registra com precisão, a data do primeiro tilintar de esporas entre aves combatentes em plagas tupiniquins. Supõe-se terem sido os espanhóis, os primeiros a aportar por aqui com galos de briga durante o século XVII. A partir daí, após quase quatro séculos se engendrando na cultura nacional do Oiapoque ao Chuí, a briga de galo embarcaria numa leva de proibições moralistas sancionadas pelo presidente Jânio Quadros.
A recusa legal, no entanto, não reverberou na crença de que a rixa entre as aves seria uma espécie de “esporte nacional”. É sobre essa pequena loteria de arena, que continua a deixar em polvorosa a sua imensa torcida de apostadores e impregnar o imaginário popular com suas batalhas de setas, bicos e penas ao redor de um tambor, o ensaio Balé, Plumas e Sangue.
Não nos é caro aqui, partilhar de motivações tendenciosas ou fazer as vezes de um libelo denuncista, até porque nossa a proposta se equilibra muito mais em seu rigor essencialmente documental. Contudo, sobre uma prática social fora dos limites da legalidade e majoritariamente repulsiva, é inevitável a concorrência do debate entre cultura popular X ecologia ou sadismo recreativo X barbárie, o que entendemos como um diálogo pertinente e alimento fundamental à espessura semântica das fotos.
João Paulo Braga
Rodrigo Sombra
2007.1