É sempre bom usarmos algo de que gostamos muito, nos sentimos bem, temos a confortável sensação de imutabilidade, de segurança. Uma coisa que sempre me fez sentir assim foi o chapéu. Ele transforma seu usuário e o remete a ocasião na qual se encaixa, seja ela qual for. Ir para mundos fantasiosos, outros paises, outras épocas… O transporte único da imaginação é o que me fascina nesse objeto.

Mas apesar dessa minha impressão pessoal, esse é um objeto que vem caindo em desuso. Não existe mais nenhuma aura em torno do chapéu, o “algo mais” que o mitifica. Ele quase voltou a sua subjugação primordial do uso apenas funcional. Que descarta quase todo o seu glamour. Quase. Há ainda uns remanescentes que não vêem o chapéu como um mero objeto, mas como parte essencial de um todo que transforma o individuo.

E é a essa capacidade do chapéu (de vários objetos na verdade, mas aqui, em especial, o chapéu) de marcar uma época, uma estação, um momento, é que dedico esse ensaio. Dedico a fruição estética, ao momento de apreciação, àquele instante fugaz que se dissipa deixando a duvida do devaneio. Que ultrapassa a realidade tal qual a conhecemos e chega a penetrar em mundos fantásticos.

Natalia Quesado

Natália Quesado

2007.1