O luto, sentimento devastador que paralisa a vida daqueles que o experimentam; pode se apresentar de demasiadas formas. Para aqueles que lidam com a realidade do câncer, doença geralmente sorrateira e desconcertante, o luto tem estágios que geralmente acompanham o diagnóstico da doença, o seu tratamento, e seu eventual prognóstico final.

O primeiro estágio, Choque, é um rude despertar. A sensação de traição, tão íntima, desnorteia. O segundo estágio, Negação, geralmente é acompanhado pela raiva e conflito interior. Certamente deve-se estar enganado. Aquilo não pode estar acontecendo, não com aquela pessoa.

A Barganha, o terceiro estágio, provoca uma mudança de atitude. Procuram-se alternativas, e geralmente a fé é uma delas. Tudo para não se enfrentar uma realidade cruel demais. A morte ainda não é um possibilidade para qual se está preparado. No entanto, ao se dar conta de que se é uma possibilidade muito real e talvez próxima, o quarto estágio, Depressão, se instala. A apatia e o desespero podem causar decisões arriscadas e até mesmo irreversíveis.

Quando finalmente se compreende, se aceita de que a doença é um fato, muitos optam por lutar e a “paz sem vencedor e sem vencidos” é um sentimento consolador que carrega consigo uma sensação de definitivo. O que acontece quando se alcança este estágio? Como a pessoa se enxerga no final do tratamento? Mesmo quando se há vitória, quando se subjuga o câncer, a sensação de estranhamento e a perda de identidade são acontecimentos comumente relatados. Se “no fundo dos espelhos me é estranha e longínqua a minha face”, outra batalha terá início; a de se recuperar o que já foi perdido no doloroso processo de luto. O seu “eu”.

*Citações são o título e um trecho de dois poemas da autora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen.

Anna Larissa Falcão

Louise Lobato

Louise Lobato

2008.1