O estupro das filhas de Leucipo, de Prosepina, de Europa; a agressão do fundador de Roma contra as Sabinas, a violação de Alex por Marcus num filme Irreversível, a inocente culpa de Lisa numa música do Belle & Sebastian, o descuido de Silk Specter nos quadrinhos de Alan Moore, o crime coletivo dos soldados americanos contra as mulheres de Abu Ghraib – da mitologia clássica à cultura pop, atravessando as páginas de jornais diários, a violência sexual tem povoado o imaginário humano, apavorando, atraindo e indignando os mais diferentes indivíduos.

A palavra em latim Rapere, que deu origem ao termo inglês Rape tinha o significado original muito mais parecido com o de “rapto” do que de “estupro”, sendo aliado à idéia de velocidade, de algo tomado à força e violentamente. A palavra Stuprum, também latina, que deu origem ao termo em português, designava geralmente uma desgraça, freqüentemente associada às mulheres. Mesmo conjugadas, essas duas acepções não são mais que mero vislumbre da verdadeira violência do abuso sexual.

O que é raptado dessas mulheres, não só Europas e Andrômedas, mas também anônimas, é sua capacidade de se relacionar com seu próprio corpo, o próprio eu torna-se-lhes estrangeiro, e a soberania sobre a sua vontade é desmoronada. Quanto aos algozes, arrependidos ou amorais, carregam para sempre – marcados a ferro – os signos do seu ato.

João Araújo

Marcelo Lima

2008.1