Quando se passa do prazer à dor, sentimo-nos em mudança. Na sua origem, o curso do tempo é a distinção entre o que se deseja, e o que se possui. Reduz-se, assim, à intenção seguida por um sentimento. A sensação de tempo e a duração, não são homogêneas: são feitas da poeira de instantes. Deve-se a um grupo de minutos, segundos ou milésimos de segundos que ficam rigidamente ligados pelo tempo relativo, pelo traçado da memória humana. Esse sentimento é da ordem das lembranças. A sua representação deve-se a uma arte: a memória.
O último instante pode transmitir diferentes sensações. Não se trata apenas da opção por um caminho pessimista ou otimista, tão pouco se trata de eleger a razão ou o inconsciente como emblema. O instante muitas vezes nem é notado. Outros são programados, assim como podem ser adiados, protelando o sofrimento e a dúvida do que vem após.
O último cigarro, ou a última dose podem ser, ao mesmo tempo prazerosos, pois ainda resta aquele para saciar uma vontade, como também podem ser angustiantes, pois acabou o que move um vício, um ciclo ou ritual.
O sentimento de tempo, a espera e o desespero, nascem da nossa perspectiva de vida, que tem uma lógica de competitividade, descarte e fluidez, que somos forjados a viver, desde que o relógio e a noção de tempo existem.
Fernanda Polônio
Luciana Barreto
2008.2