O limite, o isolamento de algumas existências pode, às vezes, ser construído por uma personalidade intensa ou uma sensibilidade educada. Em outras, a própria localidade, suas características naturais ou seus artifícios arquitetônicos colaboram em uma introspecção.

Se o Cais limita a localidade, ao mesmo tempo se oferece para a reflexão: um cair de tarde onde o som das águas que nele se debatem, nina os pensamentos que ultrapassam as arestas, mirando o infinito.
Se as crianças a beira do cais são iguais a qualquer outra, no Cais são guerreiros testando seus limites numa escalada, ou numa perigosa visita ao Quebra-bunda.

E o que sobra? A maré que não se pode conter. Que nos força a perceber que o Cais só divide o impossível do permitido, e, ao fazê-lo diz do hoje… só do hoje. “A vida tá mais pra frente… Na Maré”, como nas palavras de um velho morador. Os moradores são cientes da beleza que desfrutam e temem: “Sempre soube, desde pequena, que quando o povo descobrisse esse lugar, iam querer tirar a gente daqui.” Calma, Nerita, vocês são como o cais: sustentam as marés da vida.

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Iasnaia Lima

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Daniela Aquino