Muitas vezes sem destino e outras vezes com passos marcados. Os pés que tanto peso sustentam sobre as calçadas não estão desacompanhados. Pelo contrário, trazem consigo um aliado que os protegem e os marcam. Sim, os marcam. Nós calçamos a pobreza, nós calçamos a riqueza. Calçamos a alegria e até mesmo a tristeza.
Na poesia “Os sapatos”, Arnaldo Antunes diz que “Os pés descalços caminham calados”. Seguindo a lógica inversa, pode-se dizer que os pés, quando calçados, falam. Na música “Sapato 36”, por exemplo, o calçado apertado foi usado como metáfora por Raul Seixas para retratar a opressão paterna.
Os sapatos são como palavras que desfilam sobre as calçadas. Então, que falem por nós.