Um mundo de sonhos. Assim se concebe o País das Maravilhas de Lewis Caroll. Não apenas este país de maravilhas, um lugar fictício, um mundo de sonhos pode definir. Nas gélidas estepes, na terra do Volga, existiu uma idéia de País das Maravilhas, a Rússia nos tempos da União Soviética. Com essa analogia de dois temas aparentemente divergentes e impossíveis de terem qualquer congruência, criamos o nosso ensaio, “Alice no País dos Sovietes”.
O momento em que esses dois “sub-temas” confluíram para a criação do grande tema, ou seja, o momento em que encontramos um ponto de intersecção dessas duas paralelas que esperariam o infinito para se tocarem, transformando-as em congruentes, foi um pensamento: “Bem como na encantadora história de Carroll, como na distante União Soviética, viu-se que a maravilha, não era tão maravilhosa assim, que tanto Alice quanto o povo soviético depararam-se com situações inóspitas e estranhas, pendendo para o lado do sombrio em alguns momentos”.
Em nossa história Alice, entende-se com um exemplar da Perestroika e muda de tamanho como uma Boneca Russa (ou Matryoshka). O Chapeleiro, que na verdade é um cossaco, faz da vodca o seu chá das cinco, brindando на здоровы a Stalin, e, enquanto isso, o gigantismo de Alice a aprisiona mais e mais. A Rainha é uma austera proletária das propagandas socialistas, munida da foice e martelo, e o exército de cartas são membros do glorioso Exército Vermelho em pausa para um carteado. Enfim, uma jornada ficcional, num plano onírico de ícones e elementos estéticos marcantes, é o que propomos, seja ela para além da Cortina de Ferro ou despencando na Toca do Coelho.