O mar é, para uns, apenas divertimento. Para outros, está além desse conceito. Para as marisqueiras, ele é a principal fonte de subsistência, bem como é considerado, por algumas, como o pai dos seus filhos e como local de criação dos mesmos. A extração dos mariscos é o trabalho dessas mulheres, o trabalho que, embora seja muito comum nas localidades próximas ao mar, é desvalorizado e até mesmo desconhecido.
O trabalho de extração é prosseguido com a comercialização. É com a venda dos mariscos que é obtido o valor quantitativo, o valor cultural e o valor funcional desta atividade. A velha mariscada é carregada de significação, é a última parte de uma mistura de força e harmonia, em uma dança composta de uma posição corporal custosa, uma busca intensa entre as areias e uma vontade extraordinária de vencer as intempéries da vida.
Apesar de existir uma atividade organizada e uma prática que faz parte da sociedade há muitos anos, o trabalho das marisqueiras não é visto como um que necessite de direitos trabalhistas. E essas mulheres que acordam cedo, fazem um serviço braçal árduo, carregam peso e vendem o que retiram com muito esforço do mar, continuam sendo entendidas, apenas, como um traço cultural de certas sociedades. Longe dos aspectos que deveriam incluí-las nas leis do trabalho.